A dança da Motorola

A notícia de que a marca Motorola vai desaparecer deixou muitos consumidores com dúvidas. Como ficam os produtos já comercializados? E a assistência técnica? Não haverá mais smartphones da marca? A Lenovo vai assumir a fabricação? Entenda a história da empresa e o que acontecerá com uma das marcas mais famosas da tecnologia.

Primeiro, é bom lembrar que a Motorola é uma empresa pioneira em telecomunicação, fundada  em 1928 e, só por isso, merecia um livro sobre sua história. Um bom resumo pode ser encontrado na Wikipedia.

Para relembrar tempos mais remotos, ela foi a inventora do StarTAC, o menor e mais leve celular do mundo, em 1996.

Um dos primeiros modelos do celular StarTAC, lançado em 1996. (foto: blog Teaching Machines)

Ela mantinha a liderança nessa década e talvez por isso tenha se acomodado. Situação semelhante aconteceu com a ex-gigante RIM, que até mudou o nome para a marca de seus aparelhos, Blackberry, para ajudar em uma retomada. Porém, nesse caso, não houve investidores interessados.

Fato é que a Motorola passou por momentos ruins a partir do ano de 2010, quando a concorrência na área de smartphones ficou muito acirrada com um mercado mais do que abarrotado de fabricantes.

A primeira onda – a divisão da empresa

Por esse motivo os acionistas pressionaram seus dirigentes e chegaram a decisão de que, para o bem dos lucros, a empresa seria dividida em duas.

E a partir de janeiro de 2011 foi criada a  Motorola Mobility, que ficaria com a parte de celulares, acessórios, tablets e decodificadores de TV. A outra companhia chamada de Motorola Solutions cuidaria de escâner de código de barras, redes sem fio e rádios intercomunicadores.

Os dois logotipos da empresa quando foi dividida em duas, em janeiro de 2011

A segunda onda – a venda para a Google

Em agosto de 2011, a Google comprou a Motorola Mobility por 12,5 bilhões de dólares. Durante esse ano e o ano de 2012 ela lançou produtos de destaque, como o tablet Zoom, que foi o primeiro da categoria a usar o sistema Android customizado para o formato. Outro produto foi o revolucionário smartphone Atrix, que podia ser acoplado a uma dock (chamada pela empresa de lapdock) composta por tela de 11 polegadas e teclado físico, que o transformava em uma estação de trabalho.

Foi um produto muito bem construído, com sistema muito bem customizado para se adequar ao formato de notebook e com ótimo desempenho. Infelizmente, na minha opinião, ela errou o timing desse produto. Era uma tecnologia além do seu tempo e com preço alto demais – alguns notebooks chegavam a ter o mesmo preço do conjunto Atrix mais lapdock. E não vendeu.

Em 2013 chegou ao mercado com uma linha de smartphones que se consagrou. Faz parte dela o Moto G e Moto X, smartphones que inovaram trazendo CPUs extras apenas para processar voz e gestos. Vale lembrar também do Moto Maxx, que aliava uma bateria de longa duração com uma CPU de alto desempenho.

Logo da Motorola quando passou a ser do google, em agosto de 2011

A terceira onda – a venda para a Lenovo

Em janeiro de 2014, depois de negociar com a Lenovo, a Google vende a Motorola. E por uma pechincha: 2,9 bilhões de dólares. Agora vem a pergunta: por que a Google vendeu uma empresa que estava lançando produtos de sucesso e por um preço 4 vezes  menor do que a comprou? (lembre-se de que estamos falando da casa de bilhões de dólares).

Na verdade foi um ótimo negócio. A Google é uma empresa de software. Ela adquiriu o direito de todas as patentes da Motorola e não precisava ficar se preocupando com manufatura, logística de peças, de fabricação e redes de assistências técnicas. Ela se livrou da parte física, uma dor de cabeça que a Google não precisa ter e ainda lucra até hoje com os direitos das patentes.

E a Lenovo, como um dos maiores fabricantes de hardware do planeta, com experiência na área, resolveu apostar na Motorola. Muitos não sabem, mas além de computadores e tablets, a Lenovo também fabrica smartphones na China e figura entre os mais vendidos na Ásia.

A Lenovo manteve o nome Motorola e continuou o sucesso da linha Moto G e Moto X, lançando a segunda geração desses aparelhos em 2014 e a terceira geração em 2015, expandindo a família Moto X com o Moto X Style, Moto X Play e Moto X Force, além do Moto G de terceira geração.

Logotipo da empresa e caixas de produtos, quando foi adquirida pela Lenovo em janeiro de 2014

A quarta onda – o que virá?

Assistência técnica – os consumidores continuam com os direitos de garantia e assistência. A Lenovo já é proprietária da Motorola há dois anos e isso nunca alterou em nada o atendimento. A estrutura de atendimento continua a mesma.

Novos smartphones – Como a Lenovo também fabrica smartphones, veremos agora duas linhas: a  família Vibe que já era da empresa e um novo nome vai aparecer: “Moto by Lenovo”. Ambas serão fabricadas em Jaguariuna, na Flextronics.

A Lenovo também divulgou um comunicado para a imprensa e vale destacar dois parágrafos:

“Esta mudança mais recente diz respeito aonde vamos colocar nossos esforços de marketing no futuro. E o foco estará em nossas duas marcas de smartphones. Moto e Vibe estarão com a marca corporativa Lenovo, estabelecendo a ligação entre todos os nossos produtos comerciais e de consumo de maneira mais holística.”

 

“Como parte de um dos negócios mais competitivos do mundo, agora também vamos aproveitar ao máximo da marca Lenovo. Em outubro passado, a Lenovo foi reconhecida como uma das 100 principais marcas globais pela Interbrand. Somos uma das poucas empresas de tecnologia que oferecem às pessoas uma experiência completa de PC + tablet + smartphone, e entendemos isso como uma ótima vantagem competitiva.”

Resumindo, a marca Motorola continuará por um tempo nas embalagens dos produtos da família Moto. Mas, no futuro (não informado quando) o nome Motorola não será mais o foco de marketing da empresa. Portanto, a resposta se a Motorola vai deixar de existir é: o nome vai desaparecer em algum momento, mas a tecnologia continua a mesma, assim como os produtos.

Ainda é cedo para dizer se a qualidade dos produtos vai se manter. Seguindo a lógica de que a Motorola já faz parte da Lenovo há dois anos, a qualidade deve ser mantida. Mas ainda resta saber como andam os ânimos dos executivos, funcionários e acionistas. Mas isso terá que ser acompanhando ao longo da última dança da marca.

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René Ribeiro

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